sexta-feira, fevereiro 01, 2008

O intervalo - O melhor motivo, um Filho




Alguns dias, alguns meses sem vir aqui, por uma única razão, o Lucas Zoilo, 30.12.2008, o meu filho.

Depois disso, depois de ser pai, pai - não é uma repetição, entenda-se, é uma duplicação -, vou mudar, vou tentar fazer um blog mais fácil, claro e sensível, tal e qual como me sinto agora, claro, fácil e sensível.

sexta-feira, outubro 19, 2007

A Fórmula 1 - Eu, Lewis Hamilton e a Canção




O único piloto de F1 que disse ter What’s Going On? de Marvin Gaye como uma das canções da sua vida, foi o Lewis Hamilton. Logo, é ele que deve ser o vencedor do campeonato.

Ouvi e vi o programa do MTV Base em que Hamilton, ao estilo Takeover do MTV 2, em que os convidados dizem quais são as canções da sua vida, indicou Marvin Gaye como uma referência absoluta, porque o pai ouvia e ouve muitas vezes lá em casa. E gosta de guiar a ouvir What's Going On?. Não posso ficar insensível esse manifesto de bom gosto.

Portanto, sendo assim, não tenho outro remédio, se não aparecerem até amanhã, às 14:00, o Fernando Alonso ou o Raikkonen a dizerem que My Way (Frank Sinatra) ou Corcovado ( Miúcha ou João Gilberto) ou fazem parte das suas 10 canções favoritas, não vou perder tempo em dizer quem eu quero que ganhe.


Abílio Neto

Eu - E o elementar Dr. Watson




Acordei hoje cheio de sono, até ter ouvido a notícia na Antena 1, quando vinha trabalhar, aí pelas 07:16, um cientista, um Prémio Nobel, James Watson, em entrevista ao Sunday Times declarou que a intelegência dos africanos - «deles», segundo o Dr. - não é igual a dos outros homens - «nossa», ainda segundo ele -, é inferior.

Despertei logo.

Mas, é melhor citar o que ele disse, de acordo com o Sunday Times:

«Todas as nossas políticas são baseadas no fato de que a inteligência deles é a mesma que a nossa, quando todos os testes dizem que, na verdade, não é»;

«Watson ainda disse que esperava que todas as pessoas fossem iguais, mas que "Aqueles que têm de lidar com empregados negros não acham que isto seja verdade"».

A 1ª coisa que fiz ao chegar ao escritório foi pedir a minha demissão a administração da minha empresa, e justifiquei, sentia-me «pouco inteligente», por ser inferior, eu cá não quero nem faço favores, acho que, justamente, tenho valor para, bem enquadrado, enquanto sou jovem, trabalhar para ser Prémio Nobel de Medicina ou algo parecido, no minimo, se a lucidez e a ciência me deixarem!


Abílio Neto

terça-feira, outubro 16, 2007

O desentendimento - O Al Gore, o Nobel e ainda Bill Clinton





Não percebo o Nobel ao Al Gore. Se votasse - ainda bem que não, já se preceberá a razão -, se fosse deputado sueco, não lhe daria o meu voto.

Se votasse, como dizia, não daria o meu voto ao Al Gore, por 2 razões, mais do que suficientes, para não gostar política e pessoalmente dele:

- Foi cobarde no caso Bill Clinton Monica Lewisnky, não se expôs, resguardou-se, quando devia ter feito exactamente o contrário, o eleitorado não é parvo e percebeu que não havia «Homem»;

- Foi cobarde na fase final das eleições de 2000, quando não soube «bater os pés», não soube reagir com a contudência e sujidade necessárias - recusou a proposta da One Million March, preferiu ficar em casa com a família a espera -, à orquestração bem montada pelos Bush na Florida, uma vez mais a opinião pública percebeu e deixou que ele perdesse as eleições.

Um homem assim, que não sabe ser leal, quando a história lhe pede, nem ordinário e sujo, quando a história também lhe pede, insisto, um homem assim não pode ser Presidente de nada, nem pode ser merecedor de um Nobel da Paz.

Se pensarmos retroactivamente, Al Gore foi o principal responsável pelo fiasco da Guerra do Iraque, uma guerra inevitável, fui e sou a favor, mas que podia ter sido feita de outra forma, exactamente, da forma como Bill Clinton a vinha anunciando, por desgaste e por envolvimento da ONU e do Mundo Arabe.

Não vi o documentário do Al Gore, vou ver o do Leonardo DiCaprio, não vou comprar o seu livro The Assault on Reason, já comprei o de George Monbiot, Calor.

Não é agora que Gore tem que se posicionar, quando a história lhe pediu, não o fez, portanto, o seu encontro com o mundo, por muito que Hollywood queira, deve e tem de ficar adiado, sine die, e até com barbas.

Abílio Neto


segunda-feira, outubro 15, 2007

A música - The Strokes, First Impressions of Earth





Dos grandes albuns rock, de 2000 até 2007, o First Impressions of Earth tem de estar nos 5 1ºs.

Isto à propósito de uma pergunta que o Paulo Barata me fez, um dia destes, por telefone: «Tens ouvido rock? Que rock...?».

Mas como é que eu posso deixar de ouvir rock, sobretudo, o alternativo, como ainda lhe gosto de chamar, e, sobretudo, o que vem de NY ou de qualquer cidade inglesa de província ou da Austrália ou doutro lado qualquer, desde que inteligente?! Não posso.

The Strokes são a banda rock mais cosmopolita da actualidade e criam habituação, boa habituação.

Hype? Qual quê, são newyorkers famosos e fashionistas com talento, claro!, isso nunca foi propriamente o melhor cartão de visita nem o melhor CV para a crítica, e há ainda o facto de este ser um album que devia representar o esgotar do talento, pois, não foi!

E tanto não foi, que escreveram e criaram das melhores canções rock, ever, You Only Live Once, The Strokes (ainda gosto de pôr o «the» antes dos nomes das bandas, deve-se notar a origem do mau hábito):

Oooooh
Some people think they're always right
Others are quiet and uptight
Others they seem so very nice nice nice nice nice oh oh
Inside they might feel sad and wrong

O que me agrada nesta canção é ela não ter sido feita para ser ouvida em ambientes depressivos - o que acontece normalmente com as grandes canções rock -, está feita para a excitação, é tão optimista, tão grandiliquente na defesa de modos alternativos de viver, que me custa ouvi-la em Portugal ou neste mundo. Mas, jovialmente, continuo a ouvi-la até a exaustão. Que um objecto cultural consiga rejuvenescer, por refrescante, isso diz tudo sobre a sua qualidade.

Oh no 29 different attributes
And only 7 that you like, uh oh
20 ways to see the world, oh oh
Or 20 ways to start a fight
Oh, don't, don't, don't
Get up
I can't see the sunshine
I'll be waiting for you baby
'Cause I'm through
Sit me down
Shut me up
I'll calm down
And I'll get along with you

Se isto não é genial, não conheço um único objecto cultural que o seja.


Abílio Neto

terça-feira, setembro 25, 2007

O Dalai Lama - E a minha amiga que cheirava a açafrão



O mais próximo que estive de Buda foi:
1 - Quando li «O Buda dos Suburbios» de Hanif Kureishi;

2 - Quando ouvi a colectânea Buddha Bar II (dinner mais party);

3 - Quando vi «O Pequeno Buda» de Bernardo Bertolucci;

4 - E, finalmente, enquanto tive uma amiga, que ainda hoje não sei se era budista, dizem-me que sim, que comia arroz integral, bebia chá, sentava-se no chão, andava descalça e cheirava a açafrão, que me lembre.

Isso tudo para dizer que a única coisa que consegui reter da recente visita do Dalai a Portugal foram as imagens das pessoas que andavam a volta do homem, resplandecente e estranhamente sorridentes - fiquei a saber que não posso ser budista -, e ficou-me também esta frase:

"Promover encontros, mesmo com Bin Laden, falar, ouvir quais as suas razões. Generalizar é injusto".

Bem, 1º, ocorreu-me que já tinha ouvido isto de algum lado e não de um budista; e, 2º, lembrei-me de uma das frases predilectas da minha amiga que-ainda-hoje-não-sei-se-era-budista: «Abílio, tens de te dar com toda a gente...»!

Como, na altura, não fazia qualquer comentário a essa frase, que ela repetia até a exaustão e que eu exausto ou soberbo fui ignorando, hoje, alegre e cobardemente, sem saber onde ela está, acho-me capaz de o fazer, portanto respondo: «não tenho que me dar com toda gente, porque há gente que de maneira alguma se daria bem comigo, por isso, não quero que toda gente se dê bem comigo!».

E uma das pessoas com quem jamais me daria bem é o Bin Laden. Não vejo possível. Com um copo de Batuta ou de Thermantia na mão, não sabia o que lhe dizer e ele tão pouco saberia o que me dizer, e dar-me com uma pessoa com quem sou incapaz de comunicar com um copo de bom vinho na mão, nunca me aconteceu e não quero que me venha a acontecer. É assim comigo e parecer ser assim com os budistas, suponho que aqui, em vez do vinho, ponho a coisa ao contrário, é difícil darmo-nos bem com alguém que nos bata com um bastão por clamarmos pacificamente por liberdade, quando não temos nada na mão. A não ser que...

Hoje e ontem, em Myanmar - o país com o nome mais lindo do mundo e também com a Presidente-que-nunca-chegou-a-ser-15-anos-depois-de-ganhar-eleições-livres-e-democráticas mais linda do mundo, Aung San Suu Kyi - , parece-me, deve parecer a todos, que os budistas perceberam, finalmente, mesmo depois da China no Tibete, que há gente com quem não se deve dar, há gente com quem não se encontra e, simplesmente, há gente que não tem razão.

De qualquer forma, passou-me ao lado a recusa do governo português em receber o Dalai Lama.


Abílio Neto

quinta-feira, setembro 06, 2007

O super cronista - Francisco Umbral ( 1932 - 2007 )




(1932 - 2007 )

Tenho pena de não ter comprado a game-box do Sporting na época passada só para ter visto Nani; há quem comprava o Público – compro a sexta-feira, Y, para ler ao fim de semana e para aumentar a montanha de jornais não lidos que gosto de ter, não prescindo, os outros dias tenho o Público no emprego - só para ler o Eduardo Prado Coelho (EPC) e eu comprava o El Mundo para ler 1º a última página, onde estava a coluna Los Placeres y Los Dias de Francisco – Paco – Umbral (PU).

Há coisas e realidades que o timing certo nos obriga a comprar, o atrevimento cabo-verdiano de Nani, o Portugal inexistente de EPC, o Mundo espanhol, tenso e pós-moderno de PU e uma Levi’s Engineered, arrependo-me de não ter comprado o 1º e a última, porque o resto fui comprando e lendo.

As coisas no seu sítio, ou seja, o sea, como repetia até a exaustão PU, interessam aqui os colunistas que morreram na semana passada. De forma diferente, gostava dos dois, mas gostava muito mais do Paco Umbral, um dandy assumido, era mais personagem e personalidade, era mais de confrontos directos, era combativo, irónico sempre e mais antagónico que o Eduardo Prado Coelho que, para mim, era muito intermitente, excessivamente sério e sem sentido de humor, enfim, um português que gostava dos franceses, off topic, uma espécie de Pauleta intelectual, mas sem ser tão eficaz, foi marcando alguns golos para aplauso do bloquismo e do bloguismo, o sea, como diria o Sousa, do «bi-loquismo».

(A foto do Paço Umbral explica tudo e explica mais as diferenças entre os 2. Ainda estive tentado em pôr uma foto dos seus tempos de nudista nos anos 70 em Ibiza, mas, por diversa razão, pensei nas crianças e nos gays que são meus leitores!)

E as diferenças entre os 2 influi muito na forma como se prefere o estilo de um ou do outro.

O PU vem de uma esquerda radical, estética e liberal e anglo-saxónica e foi, com esse background, pela lógica evolutiva, aproximando-se do centro liberal, sublinho liberal, muito na onda de Pedro J. Ramirez e do diário El Mundo, que posicionando-se a direita, não tiveram problemas em ser contra a Guerra do Iraque e a favor do Casamento Entre Homossexuais, ilustrativo. O EPC é da esquerda da francofonia, a da Frente Popular e dos Existencialistas, os das boinas negras e óculos de aros redondos, daqui, não conseguiu ir mais longe do que até ao Bloco.

Outra coisa que os diferencia, o PU mais do que um cronista é um extraordinário romancista, diria, um romancista pós-moderno, pois, tenho como referência absoluta dessa corrente literária o Las Señoritas de Avignon (1995), obra que se inspira no Les Demoiselles d’Avignon (1907) de Pablo Picasso, transportando o que se vê nesse fabuloso quadro - 4 «senhoritas» enigmáticas, despidas, vestidas, com mascaras e sem, enquanto seres que parecem e podem ser para cada um de nós – para a realidade da Guerra Civil de Espanha. Descontrói completamente o quadro com o romance e faz nascer pequenas e deliciosas narrativas.

De Paco Umbral, ficará sempre isto e muito mais, com a licença do El Mundo:


LOS PLACERES Y LOS DIAS

El neomachismo
23/09/2006


Amaya Arzuaga le dice a Amilibia que el hombre y su moda, o sea la moda de hombre, tiene que moverse entre la austeridad y el machismo. Austero es Mariano Rajoy y machista era, mientras gobernó, don Manuel Fraga. En los pases de modelos, tan frecuentes y nutridos, vemos que, efectivamente, a los tíos no les queda la ropa modernosa porque les hace futbolistas con ropa interior de torero. Y tampoco les queda la moda hombre/hombre porque les hace machistas, según la citada Amaya Arzuaga. Entre unas cosas y otras, ocurre que los hombres no saben qué ponerse y siempre parecen viajantes de comercio, pero parados.


Uno cree que hay que aceptar las cosas como son. La mujer ha nacido para tía buena o tía exquisita, la mujer es un mueble decorativo al que sólo dan vida los modistos o la modista del barrio. El hombre queda muy funcionario de Hacienda se ponga como se ponga. La armonía, la belleza, el buen gusto, el buen talle y el buen detalle están de parte de la mujer, de la chica, de la yogurina o de la real hembra. Con todo eso los modistos, que son unos artistazos, mayormente mi admirado y querido amigo Pertegaz, hacen una categoría aparte que Camilo José Cela puso en este orden: el perro, la mujer y el caballo. Con este sistema métrico decimal o metrosexual nos hemos defendido toda la vida. La mujer se compraba un abrigo de visón o de rata (mucho más estilizado el de rata) cada temporada y el hombre no se compraba nada porque ya se encargaba ella de mandar darle la vuelta para usarlo un año más, que el que empieza tirando el dinero en trapos acaba amariconado.


Creo que me está saliendo un artículo bastante machista e incluso reaccionario, de modo que me pongo contento y satisfecho, pues hacía mucho que no me salía una cosa tan de derechas y tan machista.Los modelos fastuosos se inventan mayoritariamente para las mujeres, que son casi todas fastuosas de cuerpo y de abéñula. Pero últimamente, por no sé qué complejo del modisto o del cliente, se lanza también la moda masculina en los desfiles, donde vemos una especie de futbolistas con coleta que lucen de arietes del Getafe y enseñan las rodillas impresentables de los hombres, cosa que no se había enseñado nunca ni en las playas desnudistas de Ibiza. Me temo desde el principio que este amago de coquetería masculina no va a dar un duro ni un traje como el de Letizia el día que casó. Los hombres no sabemos coquetear en hombre y yo sólo he conocido tres elegantes en mi vida: Vilallonga, aunque me odie, César González-Ruano y Cary Grant en el cine.


Uno mismo hizo en su juventud algunos intentos de dandismo, pero lo dejé a tiempo. Mi proyecto fracasaba desde su juventud porque el dandismo no es joven ni viejo sino intemporal, siempre el mismo y tirando a austero, como aconsejaba El bello Brummel.Aquí me temo que falla Amaya Arzuaga, a la que conocí hace unos años y no sé si me interesó más como moda o como modelo. Amaya privilegiaba la juventud del hombre, pero la juventud sólo es un trámite y hay que resolverlo lo antes posible. La moda está de moda y aunque seas muy macho tienes que reunir un conjunto para el yate, otro para el golf, otro para el Senado, otro para el caballo y otro para la ópera. Y en este plan.



Abílio Neto

sexta-feira, agosto 24, 2007

Hot Chip - The Warning





Hot Chip.

Hype? Nada! A banda mais descomplexada e inteligente da terra, desde, porque não, Breakfast Club. Sem ter um único disco deles, fui vê-los ao vivo no Hype@Tejo, em Julho do ano passado. Rendi-me.

Eles são tipos normais, t-shirts e gangas, brancos, estranhamente minimais, o que lhes confere uma imagem clever e até erudita (popemente erudita). Grande show, canções pop (toda a boa pop imaginável) enormes e muito ritmo. Convenceram-me absolutamente. E também convenceram o pouco público que os via e ouvia, pela atenção que prestavam.

O resto do público do Festival esperava por Massive Attack - estes sim, tipos não normais, elegância extra-cuidada! - ou estava no armazem da Rádio Oxigénio a ouvir os Buraka Som Sistema, que tocavam em simultâneo com os HC, que em determinada altura, tiveram que pedir desculpas, porque não conseguiam ter o som de retorno! O programador merecia uma certificação por méritos da sua incopetência ou que a ASAE lhe retirasse a licença. É que eu também queria ouvir os BSS!

A melhor canção do ano 2006, (And I Was A) Boy From School:

And i was a boy from school

helplessly helping all the rules

and there was a boy at school

hopelessly wrestling all his fools

and there was a girl at school

blaming all the words she learnt from home

nothing would keep her a child

long hours don't give though

we try

we try but we didn't have long

we try but we don't belong

we try but we didn't have long

we try but we don't belong

Estas palavras simples, fazem-se acompanhar duma das mais belas melodias que alguma vez ouvi, tristeza, melancolia, passado, gozo, memória e alegria, ou se calhar mais coisas, definitivamente, a sensação de que na vida fica sempre muito por fazer, mesmo quando muito é feito.

Devo-te essa Sousa. Ajudado pelo entusiamo do Paulo Barata.
Abílio Neto